Crise e pandemia aumentam a população em situação de rua

Crise e pandemia aumentam a população em situação de rua
Eduardo Matos: “As pessoas são empurradas paras as ruas por falta de moradia, alimentação e devido a conflitos familiares”

Levantamento traçou o perfil dessas pessoas e os locais de maior aglomeração em Goiânia

Por Maísa Lima

Seja como pedestre ou motorista, basta circular pela cidade para constatar que nas ruas mais movimentadas de Goiânia praticamente não há um cruzamento em que não tenha alguém vendendo alguma coisa ou simplesmente pedindo algum tipo de ajuda. Outros tantos estão recolhendo latinhas ou papelão para reciclagem.

Conforme levantamento do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino, em sua maioria, essa população é formada por homens negros, solteiros, ensino fundamental incompleto e que estão há mais de dois anos na rua por questões familiares e financeiras. Estão desempregados e não têm documentos.

Os locais de maior aglomeração dos adultos localizam-se na Rua 44 com Avenida Independência, Praça do Bandeirante e Praça do Trabalhador, no Centro; Cepal do Setor Sul. entorno do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP), no Setor Universitário; Praça Montecristo (Vila São José), Praça Joaquim Lúcio e Matriz de Campinas; Cepal do Jardim América e a Praça Pindorama, no Jardim Novo Mundo).

Crise

É triste, mas consenso que as crises econômicas estimulam o aumento das pessoas sem emprego e moradia, que se veem sem outra alternativa que não ocupar calçadas, viadutos e praças. O Brasil hoje tem quase 15 milhões de desempregados segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), daí o visível aumen­to da população em situação de rua.

Conforme dados divulgados em agosto pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano (SMDHS), houve um aumento de 33% da população em situação de rua na capital goiana nos últimos cinco meses. O número estaria girando em torno de 1,6 mil pessoas, enquanto o último Censo do IBGE, de 2019, apontava que esse contingente era de 1,2 mil.

Críticas

Eduardo de Matos, um dos coordenadores do Movimento Nacional da População em Situação de Rua ,afirma que o número de pessoas morando nas ruas aumentou consideravelmente com a pandemia de Covid 19 e critica a ausência de políticas públicas. “As pessoas são empurradas para as ruas por falta de moradia, alimentação e devido a conflitos familiares”, enumera.

Ele aponta que a característica principal dessa população é a mobilidade. “Mi­gram do interior, vão de um estado para outro, mas existe muita negligência do poder público, uma omissão mesmo”, afirma.

Centro POP

Gerente do Centro POP, que é mantido pela Pre­feitura de Goiânia, Marcos Prado observa que muitas pessoas usam as ruas para sobreviver, mas têm casa e voltam para ela depois da batalha diária, enquanto outro contingente mora mesmo nos logradouros públicos.

A SMDHS afirma que o trabalho para atendimento a essa população tem sido intensificado. “É um caso praticamente crônico que herdamos de outras gestões e estamos buscando de todas as formas uma solução para a situação. Diariamente servimos marmitex para a população que encontramos nas ruas, e em nossa unidade do Centro POP recebemos inúmeros casos todos os dias para fazermos a documentação gratuita, independentemente da cidade ou estado”, diz nota encaminhada por sua assessoria.

Conforme a secretaria, todos os dias tem café da manhã e marmitex no almoço, além de doações de roupas e calçados. “Cobertores e agasalhos na época de frio também são entregues através de nossas equipes 24 horas e colocamos linhas de telefone à disposição para que eles entrem em contato com a família. Nas terças e quintas-feiras contamos com a parceria da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Goiânia que faz atendimentos para a população em situação de rua.